Confira a entrevista com o professor Evandro Novaes, que traz informações atualizadas sobre a pesquisa de melhoramento florestal realizada pela Mudas Nobres, em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG).

Engenheiro Agrônomo – Canrobert Tormin Borges:

Olá! Estamos aqui com o professor Evandro Novaes, melhorista florestal, PHD pela Universidade da Flórida, que é o encarregado da condução dos trabalhos de melhoramento florestal da Mudas Nobres em Mogno Africano. Esta pesquisa teve início com a Universidade Federal de Goiás e agora tem continuidade com a Universidade Federal de Lavras, pra onde o professor se transferiu.

Professor, como é que foi este trabalho com a Mudas Nobres em melhoramento de Mogno Africano?

Professor Evandro Novaes:

Nós iniciamos este trabalho em 2012, logo que eu iniciei na Universidade Federal de Goiás e naquela época, nós buscamos entender aonde teria a diversidade genética aqui no Brasil e nós fomos atrás de plantios já adultos no Estado do Pará, com 13 a 15 anos, e lá fizemos o Senso, avaliação do diâmetro e altura de todas as árvores.

Através deste trabalho nós selecionamos as 55 melhores árvores, as árvores de maior volume e a partir dali, a partir da identificação destas árvores, nós clonamos elas e trouxemos pra Goiânia e iniciamos um trabalho de propagação deste material. Este trabalho tomou várias frentes.

Num primeiro momento, a partir desta propagação, nós estamos preocupados em instalar testes clonais pelo Brasil pra avaliar se de fato este material é superior em relação à testemunha seminal, as mudas de semente, e este trabalho então vem sendo conduzido.

Nós já temos 3 testes clonais instalados pelo Brasil e temos a intenção de instalar ainda em outros lugares de forma a cobrir uma maior diversidade possível de clima e de solo e quem sabe até tentar identificar clones que são mais específicos, são melhores, crescem melhor em uma ou em outra região.

Uma outra frente deste trabalho foi que nós avaliamos a diversidade genética com marcadores moleculares no nosso laboratório, destes 55 clones. Havia, e ainda há, uma preocupação muito grande em relação a sustentabilidade dos plantios de mogno africano no brasil por que foram poucas as introduções do mogno Khaya ivorensis aqui no Brasil. Então, muitos produtores se preocupam se não há uma baixa diversidade genética e isto poder tornar os plantios de mogno mais suscetíveis a pragas e doenças.

Os resultados do nosso trabalho foram surpreendentes de forma positiva por que nos mostrou que existe sim diversidade genética apesar de muitos plantios terem vindo de 5 árvores que estão plantadas lá na Embrapa Amazônia Oriental. Mesmo estes plantios advindos de filhos destas 5 árvores eles tem sim diversidade genética e as vezes diversidade genética até comparável à diversidade que a gente encontra nos trabalhos que estudaram, avaliaram diversidade genética em plantios naturais lá na África.

Então é um trabalho que nos surpreendeu e demonstra que este material, estes 55 clones, podem inclusive ser intercruzados para gerar sementes e quem sabe gerar novos clones. De fato esta é uma terceira vertente que a gente vem buscando mais recentemente, que é tentar induzir o florescimento nestes 55 clones de modo que a gente possa intercruzá-los, avaliar as progêneses, avaliar os filhos em diferentes regiões do país e tentar selecionar novos clones que são ainda melhores do que estes 55 clones identificados nesta primeira geração.

Engenheiro Agrônomo – Canrobert Tormin Borges:

Professor, este segundo trabalho, esta segunda etapa, esta da indução de florescimento para este cruzamento, eleva o horizonte da pesquisa para vários anos pra frente, certo? O Sr. tem uma estimativa, um tempo, para imaginar que isto possa estar gerando frutos?

Professor Evandro Novaes:

Olha, é muito complicado, a gente está trabalhando com árvores, espécies perenes de alta longevidade. O processo de melhoramento, seja nos grãos e nas árvores é um processo cíclico e que se a empresa quiser não termina nunca. Então a gente tem as empresas florestais de eucalipto que já estão no quarto, quinto ciclo de melhoramento e estão fazendo isto a várias décadas, desde a década de 60, 70.

No caso do Mogno Africano, ele demora muito pra florescer, então cada ciclo de melhoramento aí, é necessário avaliar em várias regiões do país então de fato vai ser demorado. Não consigo precisar exatamente o tempo, mas com certeza não vai ser menos dos que os 12 anos que são utilizados na eucaliptocultura. A gente vai ter que avaliar isto num ciclo ainda maior. É um processo demorado mas é um processo importante que tem que ser feito.

Engenheiro Canrobert Tormin Borges:

Esta primeira etapa do trabalho dos testes clonais já começa a apresentar rendimento, apresentar resultados que estão mostrando a superioridade de alguns clones e até a persistência, alguns tem se mostrado mais produtivos nestas diferentes regiões. Este número, este incremento, está dentro do esperado, este primeiro passo neste processo de melhoramento está dentro da expectativa do trabalho de longo prazo?

Professor Evandro Novaes:

Então, foi mais um resultado que nos surpreendeu positivamente, por que a gente tem um crescimento muito superior de todos os clones. Pelo menos inicialmente, no primeiro e segundo ano, eles estavam crescendo muito mais do que a testemunha seminal. Mas a minha recomendação é sempre de cautela. Por que um resultado, ainda, de três anos é um resultado muito inicial pra uma espécie de um ciclo produtivo de dezoito, vinte anos. Então a gente vai ter que avaliar por um tempo maior.

Porém inicialmente, pelo menos, os resultados tem sido muito bons. Temos a expectativa de que pelo menos alguns desses clones vão de fato ser muito superiores às testemunhas clonais gerando um material genético que produz madeira de boa qualidade e numa velocidade muito maior e gerando maior volume para o produtor.

Engenheiro Canrobert Tormin Borges:

Mesmo nesta situação de um passo inicial mais rápido, nestes dois ou três anos isto também já favorece bastante por que você tem a floresta consolidada num primeiro momento, você já eleva as árvores à altura definitiva, praticamente. A abertura de copa vai acontecer no terceiro, quarto ano.

Você entende que é um ganho real esta possibilidade do crescimento inicial mais rápido mesmo que ele diminua depois mas se consolida a floresta num prazo mais curto. É válida esta argumentação?

Professor Evandro Novaes:

Com certeza. Em madeiras nobres, quando a gente está buscando o plantio, a produção de madeira para serraria, uma das coisas mais importantes é a altura de fuste. Então, quanto mais rápido a planta crescer em altura menor é a chance dela ramificar muito cedo, seja por um ataque de uma praga que de repente come o sistema apical e ela se ramifica. Então, se ela crescer em altura muito rápido, você já estabelece a altura de fuste comercial e aí então você fica menos suscetível a estes ataques de pragas que se alimentam da ponteira ou da gema pical e que fazem com que a planta ramifique.

Engenheiro Canrobert Tormin Borges:

Professor, estes trabalhos, em campo, desses alunos, como é que estão sendo feitos?

Professor Evandro Novaes:

Primeiro, antes de instalar, a gente pensa no experimento. Como é que vai ser instalado, monta o chamado delineamento experimental onde nós vamos decidir quantas repetições, quantas árvores nós vamos plantar, de cada material genético, de cada clone, neste caso, e aí a gente faz isso respeitando os princípios da experimentação, que é, ter a repetição e também ter a aleatorização no experimento.

Tudo isso é feito com este rigor científico pra depois a gente conseguir fazer as análises estatísticas. A avaliação em campo, esta parceria com a iniciativa privada, é muito interessante pra gente por que dá oportunidade da gente treinar estudantes com experiência prática e real que seria do mercado de trabalho. Através desta parceria nós já desenvolvemos vários TCCs, iniciação científica e até tese de mestrado.

Estamos sempre elegendo alguns estudantes do nosso grupo que vão conduzir as avaliações em campo e a gente coordena a análise dos dados depois no nosso laboratório. É desta maneira que é feita esta avaliação.

Engenheiro Canrobert Tormin Borges:

Perfeito. Quero agradecer o professor, a sua participação nesta série de vídeos que nós estamos colocando no ar e uma vez mais colocar a Mudas Nobres à disposição para dar continuidade nestes trabalhos de longo tempo que nós estamos tendo aí, pela frente.

Professor Evandro Novaes:

Também agradeço, Canrobert, agradeço muito à Mudas Nobres. É sempre um prazer pra Universidade se aproximar da iniciativa privada. Por que é onde as demandas reais do mercado existem e onde a gente tem oportunidade de treinar os nossos estudantes com problemas práticos e reais. Então, esta é uma oportunidade única pra gente e eu agradeço.